segunda-feira, 30 de março de 2015
Se liga no Giriês!!
Na imagem acima podemos observar um grupo de jovens se comunicando e uma senhora com duas enormes interrogação em sua cabeça, pensando: “o que eles estão falando?”. Para muitos, isto pode soar como um novo idioma, o “giriês”!!. São as famosas gírias, muito utilizadas pelos jovens em sua comunicação informal.
Segundo BEZERRA, et al. (s.d):
“A gíria, considerada como um conjunto de unidades lingüísticas (itens lexicais simples ou complexos, frases, interjeições...) que caracterizam um determinado grupo social, nem sempre mereceu um estudo específico, visto que faz parte, predominantemente, da modalidade oral da língua e num registro informal. Como, por tradição, valorizou-se sempre o estudo da língua escrita padrão, não havia lugar para esse tipo de vocabulário. Isso é o que se pode ver, consultando gramáticas da língua portuguesa de épocas diversas”
“Trocando em miúdos” (gíria para resumindo), a gíria é uma linguagem de caráter popular, criada e usada por determinados grupos sociais ou profissionais. São criadas para substituir termos ou conceitos oficiais (usados tradicionalmente).
É evidente que a gíria é dependente do tempo e do espaço, pois as gírias utilizadas antigamente já não são mais utilizadas, assim como gírias para designar uma situação ou palavra pode ser diferente dependendo do local (Estado ou Cidade). Por exemplo, nos anos 60 “legal” era uma gíria para ótimo. Já nos anos 70 para dizer que alguma coisa era legal, usava-se a palavra “massa”, que significava ótimo também. “Só a mil” é a gira para “muito bom” no Ceará, já para os Fluminenses, eles diriam “Cabuloso”!!
Para muitos, a gíria é linguagem típica de marginal, que na verdade era. Os marginais falavam somente utilizando gírias para que as autoridades policiais não reconhecessem o que estavam falando. Era uma espécie de código.
Pode-se dizer que a gíria é quase um novo idioma. Hoje em dia, os jovens fazem muito uso destas expressões. Abaixo, um diálogo entre dois jovens, extraído do texto postado por Luciano Silva no blog Visão de Foca:
- E aí, velho, beleza?
- Beleza parcerão! (estendem as mãos direitas, deslizam-nas para trás, fecham-nas, batem-nas.) E aí?
- Ahhh velhinho, sussa! Só tô indo lá na escola trocar uma ideia com o professor. O cara tá querendo me reprovar velho. Acredita?
- Iiiii véio, aquele cara ali é zica, heim? Metade da sala tá com medo de bombar!
- Não, se liga. A prova tinha redação e o cara quer zoar o negócio, tá ligado?
- O barato é loco fio!
- É, mas vô lá trocar uma ideia.
- Ê, já vai causar...
- Ah, velho, tô no meu direito!
- É, fica ligado. Se bombar sua mãe vai pesar na sua.
- Tô ligado.
- Mas aí, o que você errou na prova?
- Ah, mano... tinha que fazer uma redação sobre minhas férias. Daí eu escrevi que tinha ido pescar com o meu pai e tal e terminei dizendo que isso é bom porque nós pega o peixe.
- Ué? E não foi isso?
- Ah, sei lá, velho. O professor falou que eu esqueci da gramática.
- Nossa! Mas quem é essa tal de gramática? Ela foi pescar com vocês?
- Sei lá velho, nunca ouvi falar. Mas o professor deve ter brisado porque depois ele nem comentou mais dela e começou a falar que eu escrevi errado. Que não é “nós pega o peixe” e sim “nós pegamos o peixe”.
- Óia que professor zoado! Nada a ver uma coisa com a outra.
- Muita brisa!
- Óia, se eu fosse você reclamava pra Heloísa Ramos.
- Pra quem?
- Heloísa Ramos pô! A autora do livro “Por uma Vida Melhor”.
- Puts! Pode crer velhão! Vou falar com ela.
- Beleza. Mas fala direito viu.
- Hã? Como assim?
- Ah, de boa, não vai falar assim, na gíria.
- Eeeee, cê tá moscando?
- Ué, por quê?
- Vai começar com preconceito linguístico agora? Esqueceu que tem a fita lá do adequado e inadequado?
- E daí?
- Certeza que gíria é adequado!
- Pô, pode crer! Acho até que logo logo vai aparecer nos livros, cê vai ver.
- "Nos livros" não, ow! É "nos livro"!
- Pô, é mesmo aí! Esqueci do que aprendi.
- Se a gente se entende tá bom, né?
- Ô!
- Bom, vou lá em casa ligar. Falô!
- Ah, posso só pedir uma coisa?
- Fala aê!
- Descobre lá quem é a gramática...
- Pra quê?
- Ah, sei lá, vai que ela é bonita?! Daí você me apresenta.
- Suave...
Sacou a parada!!???
Referências:
BEZERRA, M. A. et al. A gíria: do registro coloquial ao registro formal. http://www.filologia.org.br/anais/anais%20iv/civ03_37-51.html. Acesso em 30/03/2015.
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A gíria estar presente em nosso quotidiano é algo natural e vejo como um processo evolutivo da língua.O problema que tenho visto, é o desconhecimento do línguagem formal. Isso implica uma série de problemas, pois dados nos mostram que a cada dia, os recrutadores investigam mais a vida de seus candidatos em redes sociais. (Veja: http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/199/noticias/16-dicas-para-nao-queimar-sua-imagem-na-internet). Estou farto de ver pessoas usando Giriês para tudo e matando português a qualquer custo em suas publicações. Usar gírias? Tudo bem. Expressões regionais? Qual o problema? Uai, temos que preservar nossas raízes! Mas não saber falar e escrever sua língua nata formalmente é analfabetismo funcional.
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