É neste clima Pascal que trago a vocês algumas informações sobre a química do chocolate.
O nome latino para a árvore de cacau é composto por duas palavras cheias de exuberância científica. Theobroma cacao. Derivado das palavras gregas para Deus (Theo) e alimentos (Brosi), tradução mais ou menos ao "alimento dos deuses".
Cacaueiro e o seu fruto, o cacau. |
A palavra chocolate deriva de uma palavra asteca, xocalatl, que significa "água amarga" e era servido na forma de um líquido com uma espuma espessa, misturado com canela e fubá. Posteriormente baunilha e açúcar foram adicionados de forma a adoçá-lo, tornando-o mais atrativo ao gosto europeu.
O chocolate tem mais de 300 compostos, tendo destaque para furfurilol, dimetil sulfido, ácido fenilacético e feniletilamina, teobromina e cafeína.
O mito de afrodizíaco está relacionado com as três últimas moléculas citadas acima. A feniletilamina, chamada de PEA, parecida com a anfetamina, tem sido chamada de "substância do amor". Uma barra de 100 g de chocolate pode chegar a ter 700 mg de PEA, mas a média desta substância é de 50 e 100 mg. A PEA pode acionar a liberação de dopamina, que é a substância química que causa a sensação de felicidade.
Fórmula estrutural do alcaloide feniletilamina (feniletan-2-amina) |
Mas o que pode causar essa sensação de felicidade com a ingestão de chocolate. A resposta pode estar com uma substância chamada anandamida. Também conhecida como n-arachidonoylethanolamina, é uma endorfina que o corpo humano fabrica naturalmente, por exemplo, após exercício físico. Anandamida deriva da palavra “ananda” (estado de felicidade perfeita) e é conhecida como the bliss chemical, porque é liberada quando nos sentimos entusiasmados. O cacau contém enzimas inibidoras que diminuem a capacidade do corpo de quebrar a anandamida. Isso significa que, quando comemos alimentos derivado do cacau, natural anandamida e/ou anandamida de cacau, faz aumentar o tempo da sensação de felicidade.
Fórmula Estrutural da Anandamida e THC |
Na década de 1980, foram descobertos receptores específicos para o THC (ingrediente ativo na maconha) no cérebro, chamados de receptores canabinóides. A busca por substâncias endógenas capazes de agir nesses receptores resultaram na descoberta, em 1992, da anandamida.
Entretanto, a quantidade de anandamida no chocolate é muito pequena quando comparada com a quantidade produzida naturalmente em nosso organismo, sendo necessário um consumo superior a 10 kg de chocolate para sentir seus efeitos. Entretanto, dois compostos recém isolados no chocolate inibem a quebra da anandamida, podendo resultar em níveis mais altos desta substância no sangue. Essas substâncias são a N-oleiletanolamida e a N-linoleiletanilamida.
Similaridades químicas das moléculas de teobromina e cafeína |
3,7-di-hidro-3,7-dimetil-1H-purina-2,6-diona, fórmula C7H8N4O2. É um alcalóide da classe das metilxantinas, da qual a cafeína ((1,3,7-trimetilxantina) também faz parte. Apesar de apresentar estrutura química muito similar a cafeína, como pode-se observar na figura ao lado, a teobromina exerce um menor efeito sobre o sistema nervoso central. Esta molécula também pode atuar como vasodilatador, aumentando o fluxo sanguíneo renal e a filtração glomerular, resultando num efeito diurético. As plantas, sob condições de estresse, conseguem aumentar a produção de alcaloides como a cafeína e a teobromina parar atuar como mecanismos de defesa contra insetos e fungos. O leve efeito estimulante da teobromina é mais duradouro do que a cafeína. Níveis de teobromina no sangue diminui em 50% após 6 a 10 horas, enquanto a cafeína tem 2 a 5 horas.
Os diferentes tipos de chocolate contêm quantidades diferentes de teobromina. O chocolate amargo, por exemplo, contém mais teobromina (aproximadamente 10 g/ kg) do que o chocolate ao leite (1-5 g/ kg).
E sabe aquela história que se um cachorro comer chocolate pode morrer? Então, é exatamente por causa desta molécula em questão. Os seres humanos podem quebrar e excretar a teobromina com muito mais eficiência do que os cães. A meia-vida de teobromina no cão é longa; cerca de 17,5 horas. A dosagem tóxica para cães é de 100 a 150 miligramas de teobromina por kg do animal. O chocolate amargo contém cerca de 14 mg de teobromina por grama de chocolate - cerca de 10 vezes mais do que o chocolate ao leite e mais do que o dobro do chocolate meio-amargo. O chocolate branco contém pouca quantidade de teobromina.
Por fim, o chocolate é rico em carboidratos, em especial o açúcar. Estudos tem mostrados que o consumo de carboidratos aumentam os níveis de serotonina, responsável pelo efeito anti-depressivo.
E algumas pesquisas mostram que os tipos específicos de gorduras não parecem elevar o colesterol. E ainda faltou mencionar os polifenóis, os mesmos compostos famosos nos vinhos tintos...sim!! aqueles que atuam como antioxidantes e previne a oxidação do colesterol LDL (o ruim), que causa danos as artérias. Na verdade, uma barra de chocolate pode conter a mesma quantidade de polifenol que uma taça de vinho tinto e quanto mais escuro o chocolate, mais polifenol ele terá.
Mas ainda...por que somos tão apaixonados por chocolate? Talvez a química perfeita de sabores, açucares e gorduras nos brinde com o sabor único, que derrete com a temperatura corporal, que só o chocolate pode nos proporcionar.
Deixo abaixo um vídeo para ilustrar alguns pontos abordados aqui!!
Espero que tenham gostado....
Referências:
- John Emsley, Molécula em Exposição, ed. Edgard Blucher, 2001.
- Joe Schwarcz, Barbie, Bambolês e Bolas de Bilhar, Zahar, 2009.
- http://bittergoodness.wordpress.com/theobromine/, acesso em 18-abril-2014.
- Rafael Garrett, Anandamida C22H37NO2, disponível em http://qnint.sbq.org.br/qni, acesso em 18-abril-2014.
- http://www.planetacacau.com.br/o-cacau/saude.php, acesso em 18-abril-2014.
Norberto e a sua fantástica fábrica de chocolate!
ResponderExcluirHehehehe...quem me dera Marcelo!! Mas gosto muito de um chocolate!!!
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